terça-feira, 11 de março de 2008

Durante a vida...

Durante a vida, fazemos muitas escolhas... É sempre muito difícil tomar decisões, por isso pense muito bem antes de declarar sua decisão e antes de fazer qualquer coisa. Na maioria das vezes, uma vez que você escolheu um caminho, não há mais volta. Por isso temos que aprender a fazer de nossas escolhas as melhores possíveis, "ame suas escolhas" disse uma vez uma pessoa muito sábia. Certas escolhas podem significar uma mudança incrível na nossa vida. Uma mudança inevitável e às vezes, uma mudança essencial. Um rompimento parcial com o passado, não é uma ruptura total, pois é importante ter uma conexão com tudo pelo que já passamos para que possamos criar algo que chamamos de "experiência". E assim podermos evoluir cada dia mais. (Érica Pierre Costa)

"Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira.

Cecília Meireles

Minha breve vida

Sempre tive segurança de que tudo iria dar certo, acho que aprendi isso com as tantas desilusões que me aconteceram. O problema é que também nunca tive muito com quem conversar, aquela pessoa que sempre fica ao seu lado ajudando a agüentar a barra. Ficava meio difícil, pois já que amigos vêm e vão, talvez as pessoas mais indicadas fossem da minha família, só que sempre fui o centro das discussões lá de casa, nem me sobrava tempo para pedir ajuda emocional a eles, e não era coisa da minha cabeça não, sabe aquelas pessoas que têm mania de perseguição, não era meu caso, uma prova disso é que alguns anos depois, conversando com a minha mãe ela concordou com o que eu disse.

Meu pai sempre que chegava perto brigava comigo, totalmente impaciente e nervoso, e eu, que nunca fui de agüentar desaforo calada, revidava argumentando e gritando na maioria das vezes. Minha mãe não costumava brigar e gritar, mas vivia me falando dos meus defeitos e vinha com aqueles discursos que eu tinha que melhorar e mais uma monte de coisas sempre que eu me aproximava, ela praticamente não falava de outra coisa. Minha irmã, quando estava perto de uma briga minha com os meus pais, botava lenha na fogueira piorando mais ainda a minha situação, e quando eu, triste, queria desabafar com ela, a única coisa que eu ouvia era que meus problemas não eram nada e que eu estava sendo dramática e logo ela virava a cara e se afastava. Já no caso contrario, eu a defendia e sempre que ela chorava, eu a consolava. Doía-me o coração vê-la triste. Enfim, desse jeito, eu quase não conversava civilizadamente com meus familiares.

Ou seja, nesse ambiente todo, eu me encontrava triste, desamparada. Era como se eu tivesse sido adotada, apesar de eu saber que não era, mas o problema é que os três eram muito parecidos: viviam discordando comigo. Pior eram as vezes que eles se juntavam numa discussão e nem me deixavam falar. Lógico que eu não era santa nem nada, mas eles também não me ajudavam muito, não que eles não tentassem, mas como eu me sentia muito sozinha, com as pessoas à minha volta só brigando comigo, não dava muito certo. Mais tarde, eu fui melhorando algumas coisas que me atrapalhavam e aprendi a lidar com os defeitos que não davam para serem mudados. Mesmo com esses problemas familiares eu sempre os amei muito e sei que eles também me amavam.

Quanto aos meus amigos, era complicado também, pois quando adolescente é difícil ter um amigo desde criança. Não que eu não tivesse amigos de verdade, o problema é que como não acompanhavam a minha situação desde sempre era difícil que compreendessem, e eu também me sentia mais a vontade ajudando eles com os problemas deles do que falando dos meus. Eu cheguei a ter dois melhores amigos que duraram uns 4 anos, mas eles não queriam o mesmo nível de amizade que eu, o que significava que eu dava bastante e não recebia muito em troca.

Na questão amorosa então, não tinha sorte mesmo, a pessoa que eu mais gostei foi a que mais me enganou e mais me fez sofrer. Tive outras paixões não tão fortes quanto a que eu mencionei primeiro, mas na maioria das vezes eu não era correspondida, e das poucas vezes que era, durava pouco, às vezes por minha culpa, às vezes por culpa deles.

Nessa minha vida breve tive vários problemas. Não menciono todos, pois, alguns não valem à pena ser relembrados, outros por que não iriam caber numa historia curta e outros por que me machucam muito só de pensar. Eu costumava botar meus sofrimentos em segundo plano, o que era uma das coisas que me fazia esquecer os meus problemas, pois eu pensava que tinha muita gente pior do que eu. Isso não me fazia sentir melhor, mas fazia com que eu esquecesse por muito tempo que eu também me machucava.

Sonhos, eles me ajudavam a ser otimista. Eu planejava muito o futuro, falava que ia viajar bastante, eu queria conhecer o máximo possível desse nosso mundo, eu falava que ia morar na França, que ia ser poliglota, que ia ter uma livraria junto com umas amigas minhas, que ia ter duas filhas, eu inclusive já sabia qual seriam os nomes delas, Sofia e Vitória. Mas meu maior sonho mesmo, desde pequena, era ser uma grande e renomada escritora brasileira, conhecida e respeitada no mundo todo. Eu amava ler e escrever. Era uma terapia para mim, nos livros eu encontrava, por meio dos seus personagens, aquele lindo final feliz que eu tanto queria para mim. Escrevendo, eu colocava parte da minha dor no papel, o que me tirava um pouco do peso dela e me fazia entender melhor o que estava se passando. Era para mim, uma forma de vida.

Aos 16 anos, descobri que eu tinha câncer num estado um tanto avançado, consegui agüentar por uns tempos, mas aos 20, meu corpo não resistiu mais.

Ah, como eu acreditava nas coisas. Eu acreditava em amor, acreditava que existiria a cura para todas as doenças, acreditava na paz, nos amigos verdadeiros, acreditava no mundo. Acreditava que tudo iria dar certo, mesmo quando eu não queria acreditar, era incontrolável. Eu acreditava até, que a esperança é a ultima que morre. Só que no meu caso, eu fui antes dela.

Por: Érica Pierre Costa

Aprisionada na solidão

Nem uma mísera alma,

Nem uma companhia,

Nada...

Apenas o vão de meus traumas me acompanha,

Junto ao vento que sopra em minha pele

E a escuridão da noite,

Que marca minha miséria.

Então olho para os lados,

Ouvindo a trilha sonora,

De minha desgraça,

E reconheço nesse quarto

Uma prisão,

Cheia, lotada,

De pura solidão...

Do vazio que abala,

Meu coração ferido,

Sangrento,

Destruído...

Encaro aquela porta,

Tentando materializar alguém,

Esperando a resposta de tudo,

Esperando algo além...

Espero e a resposta não vem.

E mais uma vez,

Sinto aquela velha decepção.

As perguntas se embolam, se embaralham.

As perguntas traiçoeiras e sem resposta,

Que me persuadem a aumentar meus lamentos,

E tendem a incrementar meus sofrimentos.

Penso então,

No seu fantasma

Que me ignora, e me abala,

Assim como você fez outrora,

Quando fazia parte real de minha vida,

E tomava o lugar dessa assombração

Que agora faz parte da minha sina.

Mas não tem jeito,

Nem revolta,

Não há milagre que me traga de volta

Tudo que você tirou de mim...

Por: Érica Pierre Costa