domingo, 4 de março de 2012



Baseio muito da minha vida no que eu aprendi com os meus pais, seja concordando com eles ou não, seja algo que eles me falaram ou que eu observei sozinha, seja seguindo seus conselhos ou fazendo o oposto, mas fato é: tiro muito ensinamento deles dois. Uma das coisas que eu aprendi é que a gente tem que ser egoísta antes de tudo. Eu sei que isso soa mal, mas claro que tem um limite de egoísmo, não é egoísta no sentido de apenas pensar em si e mais ninguém o tempo todo, mas de sempre que for decidir algo pensar em como você vai ficar nessa. É questão de sobrevivência até, ninguém vence e sobrevive sendo completamente altruísta e nunca colocando a si mesmo na equação.
Meus pais tem um relacionamento ótimo e fazem muito um pelo outro e por mim e pela minha irmã, mas eles nunca deixam de pensar neles mesmos também. Quanto mais novo a gente é, mais forte isso tem que ser. Claro que a vida sempre vai vir com mil pedras na mão e mil obstáculos e claro que sempre vai ser difícil manter um relacionamento tão longo com alguém. Mas quanto mais novo você for, mais difícil vai ser. Não tem hora certa que funcione para todo mundo quando se trata de entrar de cara em um relacionamento sério com alguém. Porém cabe a cada um ver se está pronto para isso, para fazer o que for preciso e nunca vai funcionar se só um dos dois estiver nesse momento. É essencial encontrar um companheiro, um parceiro, no sentido mais completo da palavra; alguém que você sabe que vai estar ao seu lado tanto quando tudo estiver mal como quando tudo estiver bem. E brigar de vez em quando não é um sinal de que a pessoa não é companheira, mas abandoná-la sem motivo algum é.
Eu acredito muito em uma coisa. Tem gente que prega o total desapego. Não se apegar a nada nem a ninguém. Dizem que só assim você encontra o verdadeiro caminho da felicidade. Eu discordo completamente; não tinha como discordar mais. Mas tem um jeito certo de se apegar às coisas. É como aqueles adesivos tecnológicos e revolucionários que a gente usa para pregar as coisas na parede sem fazer buraco. Enquanto ele precisa segurar aquilo que você quer, ele é firme e forte. Mas no momento em que você precisar tirar, ele sai sem maiores estragos à parede. Para mim seres humanos devem ser iguais. Conquiste pessoas e coisas todos os dias. Conquiste um bom emprego, bons amigos, compre as coisas de que você gosta. Mas nunca invista mais tempo nessas outras coisas do que você investe em si mesmo. Por que no fim das contas a gente nasce sozinho, morre sozinho e vive sozinho. Isso não é uma coisa ruim como parece ser, é apenas a realidade. Por mais próximo que você fique de uma pessoa ela não vai se unir a você e estar ao seu lado literalmente o tempo todo, dentro de você. Sempre irão existir momentos em que você vai se encontrar completamente sozinho, por isso é importante garantir que você consegue ter apenas a sua companhia sem enlouquecer. Por isso é importante se conhecer e ser seu próprio amigo.
Perder algo sempre vai ser doloroso. Mesmo se existisse um desses adesivos para parede que pudéssemos colocar na pele, poderíamos retirá-lo sem nos machucar muito, mas ainda assim iria doer na hora de tirar. Doeria, mas não seria fatal. A coisa mais importante nessa vida é saber dar valor a nós mesmos e não há melhor forma de fazer isso do que se fortalecendo. Não me entenda mal, se fortalecer não é ser um muro impenetrável. Fortalecer-se é ser como nosso próprio planeta. Muitas coisas se desenvolvem e penetram nele, mas tenha certeza que por mais que a gente o danifique, um dia a gente será extinto, e o planeta vai continuar aqui e vai se renovar; sem dúvida. Contudo, nem tudo nessa vida se vence apenas com força, é necessário ser também persistente. Aprender, como todos sabem, é um processo doloroso e só aprendemos por que dói, por que marca. E é ai que entra a sutileza de saber quando se está realmente dando desnecessariamente murro em ponta de faca e quando apenas se tem essa sensação por ser algo difícil de se conseguir e que leva muitas tentativas. Só consegue quem se machuca e só se machuca quem tenta. Manter sempre as esperanças e confiar em sua própria capacidade nos proporciona a habilidade de cair quantas vezes for, ser chamado de imbecil por continuar tentando e ainda assim não desistir até conseguir. Afinal se você ainda tenta tem ao menos uma chance, por menor que seja, de vencer, mas quem se declara perdedor abre mão de qualquer chance que tinha. E saiba, mais coisas nessa vida são possíveis do que querem que você acredite que sejam.
Por isso é importante unir força, persistência e perspectiva de forma que o único jeito de parar de viver é literalmente parando de viver, morrendo. Parece idiota dizer isso, mas tem gente que para de viver embora o coração continue batendo. Nunca faça isso consigo mesmo. É importante saber que por mais que você se apegue às pessoas e faça escolhas na sua vida em que as considere, você sempre pensou e investiu em si mesmo também. Tudo acaba um dia, não importa quanto tempo dure, um misero segundo ou anos a fio, mas irá acabar eventualmente. A única coisa que nunca irá te abandonar do começo da sua vida até o último de seus dias é você mesmo, não acha que isso é motivo suficiente para se valorizar acima de tudo?
Não pense que sou hipócrita, acredito firmemente em tudo o que falei neste texto desde que me entendo por gente. Esses pensamentos sempre me foram muito claros até quando criança; por isso me esforcei para que eu fosse uma companhia agradável a mim mesma e o pensamento de ficar sozinha em alguns momentos não me assustasse. Isso tudo já me ajudou a passar por momentos terríveis. No entanto, como qualquer ser humano normal, passo por momentos de tristeza em que a solidão me incomoda e minha forma de lidar com essa situação muitas vezes envolve escrever textos depressivos que não passam essas ideias de fortalecimento. Afinal uma coisa é reconhecer que por mais que tenhamos companhia estamos sempre sozinhos de alguma forma e outra é ter a sensação de que se vai ficar literalmente sozinha para o resto da vida. E de vez em quando tenho essa angustiante sensação de que nunca terei alguém que me ame como meus pais se amam e que fique comigo até a velhice. Apesar de saber que me viro muito bem sozinha e que independente do que aconteça farei de tudo para ser feliz mesmo com todos os pesares do mundo, gostaria muito de um dia ter essa pessoa ao meu lado. Quando esse meu medo fica mais forte, preciso achar uma válvula de escape para esse sentimento de forma que meus princípios continuem mais fortes do que as minhas emoções.


Suposto Fim

Até que a morte me separe
Separe corpo de alma
Concreto de abstrato
Até que eu me separe de mim mesma
Deixando o vento levar,
Meu lado que não se pode ver
E deixando ser decomposto,
O meu lado que é apenas matéria orgânica.
Chegou então esse momento de separação,
Mas não estou morta!
Por fora tudo diz que minha vida se acabou:
Não possuo batimentos cardíacos
Ou quaisquer outros sinais vitais.
Estou imóvel, de olhos fechados, fria.
Porém apesar de tudo isso, eu sei,
Eu sinto por dentro que ainda estou viva
Tento gritar, avisar que ainda estou aqui,
Mas nenhum músculo se mexe,
Nenhuma mísera vibração sonora sai pela minha boca.
Por fora sou serena, um corpo na mais profunda paz.
Por dentro estou rouca de tanto berrar, bradar,
Clamar por liberdade!
Para que não esmaguem o pouco de vitalidade,
Que eu tenho certeza, ainda me resta.
Mas é em vão.
Posso sentir as mãos que carregam meu corpo.
Posso perceber as expressões de alívio que me cercam.
Até que todos param.
Chegaram finalmente ao seu local de destino.
Só resta uma coisa a fazer, e o fazem.
Os segundos então passam devagar
Como se os momentos que desperdicei pela minha vida
Voltassem para que haja uma última coisa
Que eu possa fazer para me salvar.
Não a faço
E mau uso esses momentos novamente.
É o fim.
As chamas lambem meu corpo,
Beijam minha pele
Num ato que arranca pedaços, sangue, carne, vida,
De mim.
Queimo agora por dentro e por fora.
Pela primeira vez em sintonia.
Num fogo que dura para sempre,
Provando que apesar das aparências,
Não há um fim preciso da vida.

Por: Érica Pierre Costa