domingo, 22 de dezembro de 2013

O pulo

Houve apenas uma outra vez em que senti que estava diante de algo incrível, sem fazer ideia do que seria. Naquele dia, quando parti sem olhar para trás e me vi em um lugar completamente novo, uma imensidão vazia pronta para mim. Aquela imensidão não poderia me olhar de volta e reagir; não poderia sentir nada por mim. Seria apenas eu, sozinha, fazendo dela o que eu quisesse, o que eu pudesse. Alone again, naturally.

                Aquela imensidão pode ter feito muitas coisas por mim, mas não me tirou do meu estado inerte. Retornei e trouxe comigo de volta a mesma garota patética, inacabada e cheia de dúvidas que saiu por ai se auto flagelando, buscando sentir alguma coisa. Estranhamente aquela imensidão que deixei para trás, sentindo ter sido esse abandono o maior erro da minha vida, tornou-se repentinamente insignificante. Em algum momento depois que o conheci, o desconhecido tornou-se parte da minha vida. É um desconhecido tão familiar, que me observa de volta. O desconhecido que me toca e nesse simples gesto muda tudo. Eu já havia escrito sobre esse sentimento, antes mesmo de conhecê-lo. Lembro-me da vez em que descrevi como era sentir a certeza em um risco, sentir o certo ao pular no abismo. Nenhum de nós compreende tudo isso, não é? Você também se surpreendeu, como eu. E ainda que surpresa assim, pela primeira vez não busquei respostas, não senti a angústia de não saber o porque. Pela primeira vez só aproveito o agora e busco o futuro, só busco você nessas noites em que me deito, ainda sentindo seu olhar em mim, e fecho meus olhos com um sorriso bobo no rosto.

quinta-feira, 21 de março de 2013

A importância de um significado


Não sei ao certo a origem do meu nome, já a pesquisei algumas vezes e achei respostas distintas, certamente se eu procurasse mais acharia algo concreto sobre isso, porém até hoje não me dei a esse trabalho. Uma coisa que nunca variou em minhas pesquisas foi o significado do nome: Érica significa sempre poderosa. Antigamente eu me orgulhava muito disso, achava linda a frase “sempre poderosa”, enchia a boca para falar, soava toda pomposa e cheia de mim. Até me envergonho em dizer que uma vez comprei um chaveiro em que vinha escrito todo o significado do meu nome. A ingenuidade da juventude me fez iludida, onde havia uma maldição eu via uma benção. Sempre me julguei forte e indestrutível mesmo quando algo me abalava profundamente, tentava sempre pensar no depois e em como aquilo passaria e não teria mais tanta importância com o tempo.
Esse método até que funcionou por um período, quando eu ainda acreditava que tinha muitos e muitos anos pela frente e mil chances de mudar tudo, mas hoje vejo como é tão óbvio que ele estava fadado a falhar um dia. Quem seria capaz de ser sempre poderosa? Aliás, quem seria feliz assim? Carreguei e ainda carrego essa frase sobre os ombros, e ela pesa, como pesa. Imagine viver pensando que mais do que qualquer outra pessoa você não deve errar nunca, que qualquer erro seu seria infinitamente pior do que o erro de outra pessoa. Imagine ter medo de fazer qualquer coisa, de arriscar, justamente por achar que eu não tenho o direito de me equivocar.
Ao mesmo tempo sempre tive essa voz dentro de mim, que me mandava seguir meus sonhos, pular do barco; seguir a nado sozinha pelo o oceano vasto sem um sinal de qual seria a direção certa. Uma voz que me mandava parar de pensar tanto e fazer as coisas que eu queria. Essa voz representava a criança que eu um dia fui, antes de saber do outro mundo, o que existia fora da minha cabeça, antes de saber dos significados de nomes e das exigências das pessoas. Eu era livre de mente, porém presa e limitada fisicamente pelo simples fato de ser criança. Dessa liberdade ficou a voz, sempre me acariciando e me mandando ser feliz apesar de tudo, esquecer as regras e as críticas e apenas ser. A voz e a frase entram em conflito cada vez mais e já mal consigo distinguir o que é fala de uma e o que é fala de outra, tudo se mistura e me perco de mim mesma, já não sei mais quem eu sou, onde estou, para onde devo ir.