Não sei ao certo a origem do meu nome,
já a pesquisei algumas vezes e achei respostas distintas, certamente se eu
procurasse mais acharia algo concreto sobre isso, porém até hoje não me dei a
esse trabalho. Uma coisa que nunca variou em minhas pesquisas foi o significado
do nome: Érica significa sempre poderosa. Antigamente eu me orgulhava muito
disso, achava linda a frase “sempre poderosa”, enchia a boca para falar, soava
toda pomposa e cheia de mim. Até me envergonho em dizer que uma vez comprei um
chaveiro em que vinha escrito todo o significado do meu nome. A ingenuidade da
juventude me fez iludida, onde havia uma maldição eu via uma benção. Sempre me
julguei forte e indestrutível mesmo quando algo me abalava profundamente,
tentava sempre pensar no depois e em como aquilo passaria e não teria mais
tanta importância com o tempo.
Esse método até que funcionou por um período,
quando eu ainda acreditava que tinha muitos e muitos anos pela frente e mil
chances de mudar tudo, mas hoje vejo como é tão óbvio que ele estava fadado a
falhar um dia. Quem seria capaz de ser sempre poderosa? Aliás, quem seria feliz
assim? Carreguei e ainda carrego essa frase sobre os ombros, e ela pesa, como
pesa. Imagine viver pensando que mais do que qualquer outra pessoa você não
deve errar nunca, que qualquer erro seu seria infinitamente pior do que o erro
de outra pessoa. Imagine ter medo de fazer qualquer coisa, de arriscar,
justamente por achar que eu não tenho o direito de me equivocar.
Ao mesmo tempo sempre tive essa voz
dentro de mim, que me mandava seguir meus sonhos, pular do barco; seguir a nado
sozinha pelo o oceano vasto sem um sinal de qual seria a direção certa. Uma voz
que me mandava parar de pensar tanto e fazer as coisas que eu queria. Essa voz
representava a criança que eu um dia fui, antes de saber do outro mundo, o que
existia fora da minha cabeça, antes de saber dos significados de nomes e das
exigências das pessoas. Eu era livre de mente, porém presa e limitada
fisicamente pelo simples fato de ser criança. Dessa liberdade ficou a voz,
sempre me acariciando e me mandando ser feliz apesar de tudo, esquecer as regras
e as críticas e apenas ser. A voz e a frase entram em conflito cada vez mais e
já mal consigo distinguir o que é fala de uma e o que é fala de outra, tudo se
mistura e me perco de mim mesma, já não sei mais quem eu sou, onde estou, para
onde devo ir.