quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Sobre meus avós, Alzheimer e o que nos define

                O que faz de mim eu? Respondi não sei quantos perfis pessoais pela internet afora, escrevi textos e mais textos, cujo caráter autobiográfico por vezes era explicito e por vezes disfarçado; tenho em meu histórico uma lista enorme de sessões com diversos psicólogos e psiquiatras e, no entanto, ainda não sei dizer. Há séculos nos perguntamos o que nos define, desde especialistas como filósofos de todos os tempos e geneticistas até o adolescente em crise de identidade que escreve em seu diário: muitos são os que tentam solucionar nossas dúvidas existenciais. A individualidade humana é um dos nossos maiores mistérios.
No debate criação versus natureza, discutem se a genética tem mais força que a criação. E me pergunto o real papel das nossas memórias nessa costura minuciosa e detalhada de aspectos que nos formam. Esses questionamentos acontecem enquanto observo meu avô paterno, chamado Enéas. Ele está em um estado avançado do mal de Alzheimer e após misturar feijão, arroz e carne moída e distribuir a maçaroca igualmente pelo prato fundo (devidamente prensada pelo garfo), decidiu que não vai almoçar, mas que não podem lhe tirar o prato. Não posso dizer que conheci a personalidade do meu avô a fundo antes que a doença tomasse conta de sua cabeça. Ele sempre foi uma figura resmungona, que inseria palavrões em todas as suas falas, adorava piadas e palavras chulas e passava o dia todo em seu caótico escritório escrevendo um livro que nunca acabava. Meu avô parecia, aos meus olhos, uma figura extremamente caricata. Eu não entendia como aquele personagem, que vivia a entoar My Bonnie Lies Over The Ocean pela casa e mesmo em sua braveza parecia ter saído direto de um desenho animado, poderia ser o mesmo protagonista das terríveis histórias que eu escutava sobre o comportamento dele no passado.
Não me lembro de ter comentado com os meus parentes, porém, sobre esse desencaixe entre as histórias por eles contadas e a imagem que eu tinha ao observar meu avô. O seu excesso de raiva, ou o que seja que tomasse conta dele quando ele tratava os filhos e a minha avó de maneira agressiva, era fato incontestável dentro da minha família. Realmente pude observar algumas situações em que me surpreendi com sua exímia habilidade em usar as palavras em um momento para magoar familiares e no segundo seguinte para confiar piamente no mais completo estranho que passava. Mas não convivi com aquele ser humano de maneira tão próxima quanto gostava de pensar até pouco tempo atrás, e já me sentia um tanto órfã de avós. Minha avó materna, desde que me entendia por gente, sempre esteve em um estado muito avançado desse tal de Alzheimer- palavra cuja escrita aprendi muito cedo devido às extensas pesquisas que eu fazia sobre o assunto, numa tentativa de entender porque minha avó nunca havia me reconhecido e eu nunca havia sequer ouvido sua voz. Enquanto meu outro avô, o pai da minha mãe, mudou-se para fortaleza quando eu era ainda muito criança. Tenho vagas e escurecidas lembranças de um cachorro grande e preto e de um enorme relógio de corda antigo em sua casa em Brasília, o vi poucas vezes depois disso. Então eu considero que minha dificuldade em conseguir ver meu avô como essa figura tão ruim, vinha em parte dessa minha falta de uma convivência mais próxima e em parte de uma desesperada vontade de preservar algo de bom do meu último laço grão-paterno. No caso da minha avó materna, como tudo o que eu sabia da sua vida e pessoa pré-doença vinha do que me era dito por outrem, a minha ilusão acerca do assunto era mais clara, enquanto com o meu avô Enéas eu podia me enganar de uma forma mais convincente.

                Hoje percebo, porém, o quão pouco sei dele, por isso questiono porque estranho tanto sua mudança desde que o Alzheimer se tornou mais evidente. Se antes meu avô era personagem de desenho animado 3D produzido com a mais alta tecnologia digital, desses que quase se confundem com a vida real, hoje ele é um personagem de livro infantil; bidimensional, achatado, quase despido de sua essência humana. Em alguns momentos ainda o reconheço como o mesmo de sempre, seja num “foda-se” entoado como só ele faz ou na música que ele ainda assovia com frequência, clamando, saudoso, por sua Bonnie deitada no oceano, como se sua Bonnie fosse a sanidade perdida. Mas na maior parte do tempo, olho para o meu avô e não consigo reconhecê-lo como antes. Sentimos a necessidade de definir tudo à nossa volta sempre, é a nossa forma de entender o mundo e me lembro de aprender sobre isso em semiótica na faculdade com uma das minhas professoras favoritas. Talvez por isso eu tenha tomado posse do pouco que eu conhecia e podia observar daquela pessoa e mesmo sendo escasso o material, emendei aqueles pedaços, preenchendo os buracos com as minhas próprias carências e expectativas, até formar uma imagem inteira. Ainda assim, no auge dos meus maiores esforços, hoje vejo pouco desses pedaços, independente do quanto deles seja ele mesmo e o quanto seja minha visão sobre ele, nessa figura que anda pela casa segurando uma bola como se fosse uma criança. Pergunto-me, se apagassem todas as minhas memórias, eu ainda seria eu?


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Queda Livre

Passei 18 dias seguidos acumulando uma raiva de você. A cada dia ela crescia de forma progressiva e eu nem mesmo a compreendia por completo. Estranho perceber que no segundo em que fico sabendo que você está mal, essa raiva desaparece como se eu nunca a houvesse sentido. My heart melts like a snow flake in the desert and immediately goes to you. E ainda assim me sinto uma intrusa na sua vida, como se nunca tivesse tido lugar nela.
Brutal e vagarosamente fui acreditando que foi tudo mentira. Costurei suas palavras umas nas outras e me peguei incrédula, perguntando "mas então tudo aquilo que passamos juntos foi mera ilusão? As lágrimas emocionadas de felicidade em meio a discursos apaixonados, as conotações positivas para Sound of Silence entoada à noite por duas vozes em sintonia, o yakissoba engolido sem medo e sem ao menos perceber logo no primeiro dia juntos (apesar da minha vergonha em comer alimentos que lambuzam logo que conheço a pessoa, como se não fosse a primeira vez que nos víssemos), a intimidade instantânea, os olhares bobos de admiração lançados por ambos em momentos diferentes... Tudo isso aconteceu mesmo?" Como você pôde me dizer que sempre soube que daria errado e que se forçou a continuar depois de tudo isso que passamos? São dois pedaços de pano que não querem se encaixar na costura. Essas foram as palavras que mais me magoaram e me fizeram pensar que fui uma iludida. Não consigo mais confiar em mim mesma para saber o que é verdade e o que é mentira. Mas o poder que essas lembranças têm em mim ainda me fazem voltar a acreditar, por alguns minutos ocasionalmente, até que me lembro de tudo o que aconteceu depois, tudo o que me tirou desses momentos felizes, e choro novamente, por vezes em silêncio, por vezes a emitir os sons que caracterizam a angústia da perda, como se tivesse te perdido mais uma vez. Da mesma forma que acontece quando acordamos de um sonho bom e demoramos alguns segundos para perceber que tudo aquilo se deu apenas dentro da nossa mente. E nesse processo eu te perco de novo todos os dias, como se fosse a primeira vez. A cada dia menos lágrimas escorrem antes que eu me volte para os meus afazeres cotidianos, enquanto me indago: quanto tempo falta até a solitária e derradeira lágrima?

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

300 quilômetros por hora

Gosto de sentir frio. Em algumas noites particularmente geladas, vou até à varanda de casa, apenas de short e camiseta, descalça. Sinto o chão de granito a congelar meus pés, o frio do metal do parapeito se espalhando pelas palmas das minhas mãos, o vento álgido endurecendo em meu rosto, encosto minha coxa nua no vidro espelhando e sinto minha carne enregelar. Sinto que a morte deva ser algo parecido com isso e penso “é, posso me acostumar”. Subo no pequeno degrau do parapeito e percebo quão fácil seria me jogar, gosto de brincar com a sensação de que posso desistir a qualquer momento. Sinto o mesmo quando ando pela calçada, ao lado de alguma pista de alta velocidade bem movimentada; quão simples seria dar apenas um passo para o lado e... Fim.
 Dizem que a indiferença é a pior dor que se pode infligir a alguém. Para mim, estão errados; indiferença seria alívio. O gelado oposto ao calor que queima minhas pálpebras molhadas.
                And how I long for your cold hands to suffocate me.
A indiferença seria uma boa mudança dessa vida de intensidades e inconstâncias. Tenho um sério histórico de dificuldade em lidar com o meio termo. Por mais que eu, por vezes, saiba fingir conhecer muito bem o equilíbrio. A verdade é que na maior parte do tempo eu me divido entre me jogar de cabeça em tudo (com o maior sorriso no rosto) e querer socar tudo com força aos berros. Viver de zero a 300 km/h é só o que eu aprendi a fazer e o mecanismo interno vai aos poucos se desgastando e eu continuo sentindo que sequer saí do lugar. É claro que se tratando de pessoas eu não conseguiria fazer diferente, vou à toda velocidade de encontro a elas e sempre ouço o quanto elas me são gratas por isso; o estranho é quando olho por cima do meu ombro e noto que elas ficaram para trás, agradecendo e acenando. Nenhuma se dando ao trabalho de vir comigo. Sigo viagem a 300 km/h e continuo aqui, sigo colhendo pessoas e continuo só. Se não posso ter o permanente, penso que o indiferente seria uma boa alternativa.

domingo, 17 de agosto de 2014

Vento e Folhas

Cabeça baixa, encaro meus pés enquanto caminho: a cada passo um some da minha vista enquanto o outro aparece para tomar seu lugar, num esquema de revezamento. Imagino um filme começando, a câmera em primeira pessoa, sempre em primeira pessoa, os espectadores não podem ver o rosto da protagonista. Huh, “Protagonista”, quanta arrogância. Vou mudando os planos, os cortes, os enquadramentos, movimentando a lente e mostrando o cenário em que estou. Cenário árido, grama seca, árvores nuas, escassas aqui e ali e uma pista ao meu lado, acompanhando meus passos. Os carros passam correndo, um a um; não dá sequer tempo de enxergar quem carregam, ou mesmo meu reflexo nas janelas. Procuro então superfícies quaisquer, que sirvam de espelho, e para isso observo as pessoas que passam por mim. Ninguém usando óculos, nenhum relógio, nenhuma fivela sequer. Não há nem mesmo uma poça d’água pelo caminho. Quero poder virar a câmera e mostrar o meu rosto, enxergar nele o que os outros veem. O que nele traz apatia ou espanto, sorrisos ou lágrimas. O que nele é igual e o que é diferente. O que nele faria alguém parar e me encarar como um ser excepcional, o que em mim traria nessa pessoa uma curiosidade insaciável e uma vontade descomunal de caminhar ao meu lado sempre. Quero poder olhar o cadáver que sempre aparece em minha mente e saber se o corpo gelado, duro, estirado, pertence a mim.
De repente percebo o quão estranha me sinto e me pergunto se isso está visível para quem me observa. Busco nos olhares de quem passa por mim algum sinal de reconhecimento da confusão que está por aqui. Que vontade de pará-los, segurá-los pelos ombros e dar satisfações; explicar como me sinto, fazê-los entender que não sou louca, que há motivos por trás da expressão que eu carrego. Quão agoniante é sentir que só eu percebo a mudança, só eu estou com medo do que está por vir. Percebo ser diferente o que é mostrado no meu filme do que é mostrado no deles, mesmo compartilhando do mesmo cenário. Sinto-me um fragmento solitário, perdido.

Num segundo tudo muda, o vento parece querer se rebelar, num movimento louco em círculos leva folhas secas consigo. Todos notam essa mudança e olham assustados para a dança que o vento faz, com seus cabelos e roupas levantando-se para mostrar que compartilham da mesma empolgação que toma o deslocamento de ar. Um simples elemento traz a atenção de todos para o mesmo local, quebrando a desagregação conjunta que antes reinava.  Por maior que seja o esforço para ignorar tudo o que se destaca dos demais, ninguém consegue deixar de notar aquele rompimento com o rotineiramente comum. Aquele enorme pé de vento envolve um seleto e ínfimo número de pessoas, escolhidas a dedo sem motivo algum, como um balde de água fria quando se está dormindo. E por aqueles meros segundos, ainda que os olhares não estejam voltados para mim, enxergamos a mesma coisa e assim sinto-me um pouco menos invisível, agraciada por uma ação imaterial que move o mundo ao meu redor.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Pseudo-Moira

            Lá vai ela mais uma vez, buscando metades de amor, amores de segunda mão. Lá vai ela novamente, tecendo ilusão, aceitando a breve participação de alguém a quem ela conseguirá enganar por um momento. É sempre a mesma dança: ela escolhe uma presa e a faz acreditar que ela é boa, amável, santa. Por uns poucos segundos constroem um castelo em pilares de areia. Pesado e frágil. Grandioso e passageiro. Ela se molda por fora em argila de maneira impressionável e impressionante. E quando resseca, racha e desmancha, revela-se oca; sobram restos em pó e vento.
            A pobre coitada se faz de vítima, mas é aberração. Aberração que atrai e coleta frágeis almas , pertencentes a outros amantes, para destruí-las de vez. E o que é pior, ela não se alimenta disso. Na vida conseguimos ao menos justificar, por vezes seguindo de perdão, os selvagens que destroem para sobreviver. Mas não ela. Não há sequer prazer no porquê ela segue com essa coreografia. Se é que há um porquê. Destruir por destruir, usar sobras de amores alheios, é só o que ela sabe fazer. Talvez seja o ódio de si mesma (sempre muito bem escondido do outro e facilmente acessado por ela) que faça com que ela roube e destrua a pequena fresta de esperança enxergada nos outros. Suas vítimas são sempre as que já foram previamente detonadas por outras coisas. Sempre almas que se seguram por um fio, que ela não apenas corta com crueldade de Moira, ela dilacera. Os espectadores também compram a cena toda, assombrados, admiram sua persistência. Não notam o rastro podre que ela deixa, não percebem o nada de que ela é feita.  Por vezes engana até a si mesma e chora lágrimas rasas. Lágrimas de quem usurpa acreditando ser feita para a originalidade, acreditando ter apenas tomado posse do que de fato lhe pertence e nada mais.  Até que superficialidade de seu pranto a lembra de que nada é dela e só o nada a pertence.

Estranho. Desta vez, despejei lágrimas cheias.



"Sinto que é como sonhar

Que o esforço pra lembrar
É a vontade de esquecer
E isso por quê?
Diz mais"
(O Vento - Los Hermanos)


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Fluir (to flow)

(em português)
Fluir
                Há um sentimento de satisfação e alívio em saber que você não é uma, duas ou três coisas. Já não se pegou pensando: “Hum, eu não sabia isso sobre mim”? É incrível descobrir coisas novas sobre as nossas personalidades, independente de se ter nove, 14, 18, 24, 30, 40, 50, 80, 110 anos de idade. Nós não somos feitos de pedra e nem devemos ser; não é o que nos constitui. Somos líquido. Nós dissolvemos, nos fazemos temporariamente sólidos, fluímos, evaporamos, inundamos, corremos, nutrimos, trazemos vida a algo seco, nós mudamos e trazemos mudanças. Existe vida conosco e não existe vida sem nós. No nosso mundo, dentro das nossas mentes, nós somos o centro e somos essenciais para que tudo mais exista. Quando morremos, o mundo morre conosco e não morre ao mesmo tempo. Então se somos o que vemos e o que sentimos, e se não há como verdadeiramente provar que tudo o que nos cerca não é o produto da imaginação de um indivíduo específico, como você mesmo, então saiba que você tem muito mais controle do que você acredita e muito menos do que pensa. Eu posso mudar muito e aceitar muito, só é necessário encontrar o equilíbrio. Mas a coisa mais maravilhosa nesse mundo é o não saber o que vai acontecer e então ser surpreendido quando descobrimos que ainda há mistério em nós. E de repente você entende aquela frase que você sempre usou para dar conselhos para os outros. Aquela frase tão importante na sua vida, que nunca se viu dizendo para alguém, por mais que aconselhasse todos a serem otimistas. Você se vê dando novo sentido à dor e às lágrimas que derramou. Criando novas lembranças em cima de dores antigas, como uma amiga tão sabiamente já me aconselhou. Se vê entendendo aquele sentimento excruciante que a fazia querer arrancar seu interior, pisar em cima e jogar fora. Mas mais que tudo, se vê andando naturalmente, instintivamente, por um caminho tão completamente novo e absolutamente conhecido.


(in english)
To Flow

                There is a feeling of satisfaction and relief in knowing we are not one, two or three things. Haven’t you ever caught yourself thinking: “huh, I didn’t know that about myself”? It’s amazing to find out new things about our personalities, whether you are nine, 14, 18, 24, 30, 40, 50, 80, 110 years old. We are not made of stone and neither should we be; that’s not our constitution. We are liquid. We dissolve, we can make ourselves temporarily solid, we can flow, we can evaporate, we can flood, we can run, we can nurture, we can bring life into something dry, we can change and make changes. There is life with us and there isn’t life without us. In our world, inside our minds, we are the center and we are essential so that everything else exists.  When we die, the world dies with us and doesn’t at the same time. So if we are what we see and what we feel, if there is no way to truly prove that all that surrounds us isn’t a product of the imagination of one specific individual, like yourself, then know you have a lot more control then you believe and a lot less then you think. I can change so much and I can accept so much, it’s only necessary to find balance. But the most beautiful thing in the world is the not knowing what is going to happen and then being surprised when we find out there is still mystery inside us. And suddenly you understand that sentence that you have always used to give advice to others. That sentence that have always meant so much to you, but you never saw yourself saying to someone, however optimistic you used to tell people to be. You see yourself giving new meaning to the pain and tears you once shed. Creating new memories on top of old pains, like a friend so wisely once advised me to do. You see yourself understanding that excruciating feeling that made you want to rip your interior apart, step on it and throw it away. But more than that, you see yourself walking so naturally, instinctively, through a path so completely new and absolutely known.

domingo, 8 de junho de 2014

Closure

Hi there. Remember me? It’s been nine years since the day I lost the last glimpse of innocence my childhood nurtured about love, relationships, honesty and people. I thought about you today – actually, it’s kind of incredible how often I think about you even after all these years; maybe once a month. Don’t get me wrong, I don’t still have feelings for you. And yet it’s weird to think you’ve had, well, still have such a negative impact in my life when you don’t know much about me, except which English school I went to and my name – if that.  You don’t know what I am majoring at in college, what my favorite color is, what was the name of the dog I had as a child, when I got my driver’s license, what my dreams are, my parent’s name. Doesn’t it seem right that the only person who made me feel actual hate should know a little more about my life?
What I think about the most, when the memory of you pops into my head, is that I never got the chance to tell you how I felt after what you did. I was too in shock to say something when the whole thing happened and, when I wrote you that letter, you tore it into pieces. I also think about how I never fully understood your reasons. I know the basic story: young horny bastard tries to get advantage of younger girl in love by lying to her. But every story has specific details from both sides; I just wish I had been able to hear what you would say in your defense or how you would tell this same story.
Can you see there is an entire thought process that happens when I remember you? The next step is when, after all that I described above, I think about closure: if and why it is important for us to truly move on and what really defines it.  As I said, I was never able to tell you everything I wanted to, anything I want to. I can still feel it stuck in my throat. And I wonder: what if I never get to? Does that mean that this will haunt me forever? Am I doomed to carry this trauma with me for life? I am not even sure if it affects how I see myself or how I act when in love and in a relationship - and if it does, I am not sure how. Is what happened with you the reason why I always seem to be attracted by those who eventually will abandon me? Is it the reason I always think it’s my fault when that happens? Is this why I feel undeserving of having a healthy balanced relationship? For the sake of argument let’s say it is. Let’s say that’s why things keeping going wrong in that area of my life. Let’s say that’s why I keep collecting bad love stories without ever getting closure with any of them. Is it possible for me to fix this? Closure can mean so many different things for different people. Some give away whatever last piece of souvenir they have from what happened, some even throw it out or burn it. Some people get to yell at the one who was involved and then leave. Some send a letter or an email that the other person actually ends up reading and maybe even responding. Some even get closure in a more shallow way; by doing everything they can to show the other person that they are better off without them.  Well, I have no souvenir to give, throw or burn away, I have no way of yelling at you, we already know what was the destiny of my letter and I don’t believe the last example would satisfy me even if I had a way to try it. Doesn’t it sound frustrating? How am I ever going to get my closure? Maybe some of us never get closure. I guess some people would tell me to just let go and even to forgive you. Well if it is that easy then tell me how. I am more open to suggestions than I’ve ever been before.

I’ve always been found of philosophical theories that say we are in control of our own happiness, despite of any obstacles that may be thrown on our way. But as so many things in life I guess that’s easier said than done. How do I forgive he who didn’t ask for forgiveness? How do I accept your reasons when I don’t know what they were? How do I keep you from having that much control over my life when you are not even aware of it? If you came this far expecting me to answer anything I am sorry to tell you that - like in life- this is not about answers, but about accepting some hard questions that may never be solved.

sábado, 5 de abril de 2014

La Vie en Rose

Como voam alto, os pensamentos, como é fácil perder-me em minha própria cabeça. Sentada no chão de granito, a água quente queima a minha pele e eu nem sinto nada. O vapor preenche tudo e através dele, mal enxergo embaçada, a imagem de fundo do meu notebook; a Torre Eiffel sobre um céu límpido em Paris. La Vie En Rose toca ao fundo e a voz do Louis Armstrong me acaricia. “Hold me close and hold me fast, the magic spell you cast, this is La vie en rose.” E nesse instante me sinto como uma personagem dentro de um filme do Woody Allen. A única iluminação no momento vem da luz do sol que entra pelo vidro fosco da janela e que cresce gradualmente seguindo o ritmo do saxofone, até refletir nas gotas que escorrem pelo box e vêm de dentro de mim, salgadas pelas lembranças que fazem arder. A lista de músicas segue seu curso e Louis dá lugar à Valentine Song. “You light up the room, and you don’t even know.” Pensava que aos poucos estava me desapegando. Que tola sou; você continua tão presente na minha vida quanto esteve há meses atrás, ainda que tenha ido embora.

Abraço aquela água fervente na esperança de derreter e sumir, enquanto me pergunto se tudo deu errado simplesmente por eu não saber dançar tão devagar. O culpado teria sido o tal pulo que me vangloriei tanto de ter dado tão rapidamente? Pensava estar fazendo a coisa certa ao me entregar tão completamente. Pensava que você ficaria feliz em ver que alguém o queria tanto assim sem nem se questionar. Pensava que eu sabia muito mais sobre tudo isso. “Às vezes eu quero chorar, mas o dia nasce e eu me esqueço (...) e tudo que eu posso te dar é solidão com vista pro mar. (...) Às vezes eu quero demais e eu nunca sei se eu mereço, os quartos escuros pulsam e pedem por nós.” Este quarto escuro pede por você, ainda que você tenha vindo aqui apenas uma vez eu olho à minha volta e só me lembro dele contigo dentro. Como se ele nunca houvesse existido antes, como se nem mesmo agora existisse. E eu não sei mais se eu mesma sequer existo. Johnny Cash aparece e me diz que eu pareço tão sozinha. Pergunto a ele se você ainda pensa em mim. And I still love you with a love that won’t die. Você não consegue ver? Meu pensamento voando aí sempre tão perto de você? Em cada referência, em cada personagem, história, diversão que aproveitamos ou admiramos juntos? Não vê que estou por perto cada vez que algo real entra na sua frente e você não consegue se desvencilhar? Talvez tenha sido esse o problema, talvez eu tenha sido real demais para alguém que busca se alimentar exclusivamente de ilusões.

domingo, 30 de março de 2014

Devaneio

É como se nós nunca tivéssemos acontecido. Procuro em meus pensamentos nossas lembranças e as vejo cada vez mais apagadas. Tento lembrar-me do teu rosto sem precisar do auxílio de tuas imagens e cada vez mais te tornas um homem sem face em minha frente. Um homem sem olhos a me encarar. Já não sei mais a que me apego, de tão distante que estamos. O desejo vai sumindo pelas beiradas, e por mais intenso que tudo o que passamos juntos tenha sido, a extinção chega cada vez mais perto do centro. Essa sou eu desistindo. Não disseste nada, não sentiste nada. Essa sou eu desistindo de algo que nunca existiu. Porque a cada dia me pergunto mais e mais se não foi tudo fruto da minha mente. Resultado de alguma carência. Sonhos causados por noites insones em que, no calor, sentia-me morrer de frio. Apenas um quadro que pintei sozinha, um retrato perfeito de tudo que sempre esperei em alguém. E não há registros nossos que me mostrem o contrário. Foste tudo o que eu sempre quis. Não foste tudo o que eu sempre quis. E sinto a ilusão escorrer-me pelos dedos. Há pouco tempo me encontrava perambulando em abstinência e tive a visão de um oásis. No deserto gélido pensei ter te encontrado cálido a me aliviar. Mais uma das minhas visões que agora se acumulam no meu esconderijo de negações. Pensando agora em como tudo aconteceu, lembro-me que tentaste me avisar. Como quando estamos em um sonho ou pesadelo e um dos personagens nos alerta, com algum gesto ou palavras sutis, de que aquilo não é real. Eu deveria ter te escutado, mas nem chegaste a existir.  Tão estranho e dolorido ter de reaprender a viver sem algo que nunca tive.

segunda-feira, 17 de março de 2014

A Volta Para Casa

Fora uma segunda-feira plena. Do amanhecer, ao acordar atrasada para a faculdade e ter de se arrumar às pressas, sem ter dormido tão bem por ter sido acordada com um susto no meio da noite pelos seus medos e inseguranças. Ao fim do dia, na volta pra casa, sentada de forma desconfortável e espremida na fileira final do ônibus, último lugar que havia sobrado quando ela entrou. Ela pensava, pois era só o que restava a fazer naquele momento. Não havia a voz do professor ou o peso do trabalho a distraí-la e não conseguia evitar que seus pensamentos corressem soltos como uma manada por cima de sua cabeça. Tentava espairecer, percebendo pequenos detalhes. Como o reflexo da luz dos carros no cano que se usa para se segurar e que atravessa o teto do ônibus. Eram pequenos pontos de luz a correr pelo cilindro de metal, pintado de amarelo, de forma a parecer que era por ali mesmo que andavam e não pela rua. No entanto, eram apenas reflexos, ilusões. E ela sabia disso mais do que ninguém. Devaneava e buscava entreter-se, mas acabava voltando para o mesmo desconfortável lugar em sua mente. Olhava para o cano e sua vontade era de agarrar-se a ele com força, indo para onde quer que o veículo controlado por outrem fosse. Porém temia que se assim o fizesse, o peso de sua vida, com desejos não cumpridos, saudades ainda latejantes e histórias inacabadas, acabaria por arrebentá-lo.



" All I can say is that my life is pretty plain
I like watchin' the puddles gather rain
And all I can do is just pour some tea for two
And speak my point of view
But it's not sane, It's not sane"
(No Rain - Blind Melon)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Escalar

“Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira.” Cecília Meireles

           Frase batida e clichê. Mas nem por isso deixa de ser uma das minhas favoritas. O fato de muitas pessoas a repetirem de forma um tanto cansativa, não faz com que muitas realmente a compreendam ou a apliquem. Para mim, uma das coisas mais bonitas que uma pessoa pode fazer é se entregar de verdade, deixar-se completamente vulnerável. O riscos disso podem ser grandes, mas apenas se você não souber se reconstituir caso precise. Quantas vezes não ouvi que a solução para os meus problemas era deixar de me doar tão inteiramente, tão intensamente? Mas viver assim, pela metade, seja em qual tipo de relacionamento for, para mim, é trair a própria vida. Quando o maior sentido que pude atribuir ao simples fato de existir é apenas o sentir, seja qual sentimento for; deixar de fazê-lo, para mim, é deixar também de existir.

           Acredito ainda no poder da repetição para fazer com que algo se torne verdade. Desde criança gosto dessa frase e a escrevo para mim mesma ocasionalmente. Desde que me entendo por gente repito que sou forte e que aguento qualquer coisa. Hoje sei que essa espécie de “mantra” foi o fio que me segurou nos piores momentos da minha vida. Estou atualmente num desses processos de me reconstruir, e sei que é grande a tentação em aproveitar o momento para construir também muros, mas não o farei. É duro forçar essa perspectiva agora, enquanto ainda estou na metade do procedimento, no entanto sei que poderei futuramente me entregar mais uma vez. E mesmo sabendo que com isso vem também, é claro, a possibilidade de me destruir de novo, sei que vale a pena. Dessa vez em especial percebi algo que não havia notado ainda. Ao analisar todas as vezes em que me joguei assim, em que me doei, percebo uma certa progressão na intensidade e beleza de cada relacionamento e no que retiro de cada um. A cada vez gosto mais do processo de pular naquela oportunidade e a cada vez descubro algo diferente, um sentimento diferente que eu não sabia ser capaz de sentir, que eu sequer sabia que existia. Sim, eu sou uma pessoa forte não apesar de me doar tanto, mas justamente por isso, e jamais deixarei de ser assim.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O Quadro

Senti o leve roçar das cerdas do pincel me fazendo cócegas. Era uma manhã de sábado incomumente ensolarada e ela me olhava concentrada enquanto eu sentia o calor da luz do sol que entrava pela janela. Ela não costumava estar acordada em uma hora como aquela, mas havia sonhado comigo e precisou urgentemente se levantar e vir me ver. Normalmente ela passava um bom tempo falando na minha frente com o pincel na mão, bradando-o como um maestro, porém dessa vez eu podia ver que havia algo diferente. Ela ainda estava vestida com a camisa do The Smiths com a qual eu a vi saindo na noite anterior e a cada frase ela derramava mais e mais lágrimas. “Tudo termina onde começa” ela dizia entre uma gota e outra. Percebi nesse momento que ela começou a me mudar, antes eu era feliz e suave, com cores alegres, agora ela começara a sujar o pincel com cores mais escuras e a dar pinceladas mais bruscas. Pincel, gota, palavra, pincel, gota, palavra, que ritmo triste ela havia formado. Ah que diferença do dia em que ela me começou. Lembro-me ainda que ela havia vestido uma camisa do Guns, com um propósito especial brilhando no canto dos olhos e no sorriso esperançoso. Naquele dia algo havia começado e ela estava mais feliz do que nunca. Agora ela me terminava, e eu que achava que iria ficar para sempre livre naquele lugar perto da janela, via-me de repente emoldurado, preso e prostrado em cima de sua cama, para que ela jamais esquecesse. Começou com Guns e terminou com The Smiths, como havia de ser.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

I am yours now

            O conceito de afinidade sempre me intrigou, sabe? Lembro-me de passar horas tentando entender o que faziam duas pessoas se sentirem tão próximas e ainda hoje não compreendo. Considerei a semelhança de gostos, mas eu recordo das vezes em que você me revelou algumas preferências suas (antigas ou atuais) que são completamente diferentes das minhas próprias e isso não me afastou de você, pelo contrário. Pensei na afinidade pela semelhança no que gostamos de fazer, mas novamente me vi não ligando para as nossas diferenças nesse ponto. Talvez fosse afinidade de princípios. Tá ai! Pude ver até agora que temos os mesmos princípios. Mas certamente falta algo nessa “explicação”. Ainda que princípios estejam tão arraigados em nossas personalidades, não parece ser uma explicação satisfatória. Não seria apenas isso que criaria esses avestruzes, não é? Por que seriam apenas eles os responsáveis por tantas contrariedades; o conforto natural e o nervosismo do novo que me cobrem por completo quando você está aqui.

            Quão efêmero seria gostar de você apenas por aspectos da sua personalidade que podem mudar eventualmente? Quão simplório é procurar explicação em gostos e hobbies? Prefiro explicar essa coisa toda no instinto. Uma vez na vida meu faro havia de funcionar. Senti no toque a sua essência. Percebi na tranquilidade, na segurança, que me dá quando você me olha. Como mais poderíamos ter conversas tão reveladoras desde o começo? Mesmo não sendo alguém de ter muitos segredos, acho que nunca mostrei tanto sem ao menos perceber. Nunca tive tão pouco medo de soar clichê. Não estou livre de ter medos e vergonhas (o nervosismo do novo), mas pela primeira vez posso expô-los, sabendo que você consegue sumir com eles em pouco tempo (o conforto natural). Aliás, você me faz entender como o tempo pode ser algo tão relativo, sete horas, sete minutos, qual é a diferença? A sua presença. Eu vou continuar aqui deitada, o braço não formiga, a perna não dói, não preciso me mexer para me ajeitar, está tão bom assim.

"See what I've done
That bridge is on fire
Back to where I've been
I'm froze by desire
No need to leave"