sábado, 9 de agosto de 2008

Uma Ilusão

Naquele momento o brilho do sol era inexistente, portanto incapaz de me trazer algum conforto, e a lua, que outrora de esperança me preenchia, camuflava-se no manto negro daquele céu de poucas estrelas. Estava em meu quarto, mergulhada em minha cama, coberta da cabeça aos pés pela mais profunda angústia e só o que me restava a fazer era encarar o olhar frio daquele teto vazio.
Eu chorava de saudade por ter perdido uma das pessoas mais importantes da minha vida e me sentia incapaz de me deixar cair nos braços de Morfeu, que segundo os mitos gregos tinha a capacidade de assumir qualquer forma humana e aparecer nos sonhos de alguém como se fosse a pessoa amada por aquele determinado indivíduo. Como poderia me entregar a mais uma ilusão que nada mais faria além de me decepcionar no segundo em que se dissipasse junto da aurora e do fim de meu sonho?
Tira-se o M e temos mais uma figura da mitologia grega: Orfeu, que também não poderia consolar-me, pois nem mesmo ele e seu canto poderiam me trazer de volta aquilo que me faltava. Nem mesmo Orfeu, cujo canto divino conseguira salvar sua amada das profundidades do reino de Hades, seria capaz de recuperar aquilo que faria com que me sentisse viva novamente. Poderia passar a noite toda fazendo combinações de letras, formando palavras e ainda assim não encontraria alguma personalidade mítica capaz de confortar-me. Mesmo assim foi o que eu fiz, durante as poucas horas que me restavam de sono percorri incontáveis histórias fictícias buscando alguma solução, tentando escapar da realidade e mais uma vez, falhei.
(Por: Érica Pierre Costa)

terça-feira, 11 de março de 2008

Durante a vida...

Durante a vida, fazemos muitas escolhas... É sempre muito difícil tomar decisões, por isso pense muito bem antes de declarar sua decisão e antes de fazer qualquer coisa. Na maioria das vezes, uma vez que você escolheu um caminho, não há mais volta. Por isso temos que aprender a fazer de nossas escolhas as melhores possíveis, "ame suas escolhas" disse uma vez uma pessoa muito sábia. Certas escolhas podem significar uma mudança incrível na nossa vida. Uma mudança inevitável e às vezes, uma mudança essencial. Um rompimento parcial com o passado, não é uma ruptura total, pois é importante ter uma conexão com tudo pelo que já passamos para que possamos criar algo que chamamos de "experiência". E assim podermos evoluir cada dia mais. (Érica Pierre Costa)

"Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira.

Cecília Meireles

Minha breve vida

Sempre tive segurança de que tudo iria dar certo, acho que aprendi isso com as tantas desilusões que me aconteceram. O problema é que também nunca tive muito com quem conversar, aquela pessoa que sempre fica ao seu lado ajudando a agüentar a barra. Ficava meio difícil, pois já que amigos vêm e vão, talvez as pessoas mais indicadas fossem da minha família, só que sempre fui o centro das discussões lá de casa, nem me sobrava tempo para pedir ajuda emocional a eles, e não era coisa da minha cabeça não, sabe aquelas pessoas que têm mania de perseguição, não era meu caso, uma prova disso é que alguns anos depois, conversando com a minha mãe ela concordou com o que eu disse.

Meu pai sempre que chegava perto brigava comigo, totalmente impaciente e nervoso, e eu, que nunca fui de agüentar desaforo calada, revidava argumentando e gritando na maioria das vezes. Minha mãe não costumava brigar e gritar, mas vivia me falando dos meus defeitos e vinha com aqueles discursos que eu tinha que melhorar e mais uma monte de coisas sempre que eu me aproximava, ela praticamente não falava de outra coisa. Minha irmã, quando estava perto de uma briga minha com os meus pais, botava lenha na fogueira piorando mais ainda a minha situação, e quando eu, triste, queria desabafar com ela, a única coisa que eu ouvia era que meus problemas não eram nada e que eu estava sendo dramática e logo ela virava a cara e se afastava. Já no caso contrario, eu a defendia e sempre que ela chorava, eu a consolava. Doía-me o coração vê-la triste. Enfim, desse jeito, eu quase não conversava civilizadamente com meus familiares.

Ou seja, nesse ambiente todo, eu me encontrava triste, desamparada. Era como se eu tivesse sido adotada, apesar de eu saber que não era, mas o problema é que os três eram muito parecidos: viviam discordando comigo. Pior eram as vezes que eles se juntavam numa discussão e nem me deixavam falar. Lógico que eu não era santa nem nada, mas eles também não me ajudavam muito, não que eles não tentassem, mas como eu me sentia muito sozinha, com as pessoas à minha volta só brigando comigo, não dava muito certo. Mais tarde, eu fui melhorando algumas coisas que me atrapalhavam e aprendi a lidar com os defeitos que não davam para serem mudados. Mesmo com esses problemas familiares eu sempre os amei muito e sei que eles também me amavam.

Quanto aos meus amigos, era complicado também, pois quando adolescente é difícil ter um amigo desde criança. Não que eu não tivesse amigos de verdade, o problema é que como não acompanhavam a minha situação desde sempre era difícil que compreendessem, e eu também me sentia mais a vontade ajudando eles com os problemas deles do que falando dos meus. Eu cheguei a ter dois melhores amigos que duraram uns 4 anos, mas eles não queriam o mesmo nível de amizade que eu, o que significava que eu dava bastante e não recebia muito em troca.

Na questão amorosa então, não tinha sorte mesmo, a pessoa que eu mais gostei foi a que mais me enganou e mais me fez sofrer. Tive outras paixões não tão fortes quanto a que eu mencionei primeiro, mas na maioria das vezes eu não era correspondida, e das poucas vezes que era, durava pouco, às vezes por minha culpa, às vezes por culpa deles.

Nessa minha vida breve tive vários problemas. Não menciono todos, pois, alguns não valem à pena ser relembrados, outros por que não iriam caber numa historia curta e outros por que me machucam muito só de pensar. Eu costumava botar meus sofrimentos em segundo plano, o que era uma das coisas que me fazia esquecer os meus problemas, pois eu pensava que tinha muita gente pior do que eu. Isso não me fazia sentir melhor, mas fazia com que eu esquecesse por muito tempo que eu também me machucava.

Sonhos, eles me ajudavam a ser otimista. Eu planejava muito o futuro, falava que ia viajar bastante, eu queria conhecer o máximo possível desse nosso mundo, eu falava que ia morar na França, que ia ser poliglota, que ia ter uma livraria junto com umas amigas minhas, que ia ter duas filhas, eu inclusive já sabia qual seriam os nomes delas, Sofia e Vitória. Mas meu maior sonho mesmo, desde pequena, era ser uma grande e renomada escritora brasileira, conhecida e respeitada no mundo todo. Eu amava ler e escrever. Era uma terapia para mim, nos livros eu encontrava, por meio dos seus personagens, aquele lindo final feliz que eu tanto queria para mim. Escrevendo, eu colocava parte da minha dor no papel, o que me tirava um pouco do peso dela e me fazia entender melhor o que estava se passando. Era para mim, uma forma de vida.

Aos 16 anos, descobri que eu tinha câncer num estado um tanto avançado, consegui agüentar por uns tempos, mas aos 20, meu corpo não resistiu mais.

Ah, como eu acreditava nas coisas. Eu acreditava em amor, acreditava que existiria a cura para todas as doenças, acreditava na paz, nos amigos verdadeiros, acreditava no mundo. Acreditava que tudo iria dar certo, mesmo quando eu não queria acreditar, era incontrolável. Eu acreditava até, que a esperança é a ultima que morre. Só que no meu caso, eu fui antes dela.

Por: Érica Pierre Costa

Aprisionada na solidão

Nem uma mísera alma,

Nem uma companhia,

Nada...

Apenas o vão de meus traumas me acompanha,

Junto ao vento que sopra em minha pele

E a escuridão da noite,

Que marca minha miséria.

Então olho para os lados,

Ouvindo a trilha sonora,

De minha desgraça,

E reconheço nesse quarto

Uma prisão,

Cheia, lotada,

De pura solidão...

Do vazio que abala,

Meu coração ferido,

Sangrento,

Destruído...

Encaro aquela porta,

Tentando materializar alguém,

Esperando a resposta de tudo,

Esperando algo além...

Espero e a resposta não vem.

E mais uma vez,

Sinto aquela velha decepção.

As perguntas se embolam, se embaralham.

As perguntas traiçoeiras e sem resposta,

Que me persuadem a aumentar meus lamentos,

E tendem a incrementar meus sofrimentos.

Penso então,

No seu fantasma

Que me ignora, e me abala,

Assim como você fez outrora,

Quando fazia parte real de minha vida,

E tomava o lugar dessa assombração

Que agora faz parte da minha sina.

Mas não tem jeito,

Nem revolta,

Não há milagre que me traga de volta

Tudo que você tirou de mim...

Por: Érica Pierre Costa

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Acabou-se

Olho no espelho
Rachado ao meio
Meu reflexo destorcido
Divido em dois

Minha mão em meu peito
Segurando a dor
O sangue quente escorrendo
Por minha pele cheia de ardor

Meus joelhos estremecem,
Não sustentam mais meu peso.
E a dor da queda é maior,
Do que o vazio que eu vejo,
Em mim.

A armadura caiu,
A batalha acabou.
O mundo inteiro sumiu,
E a fantasia, com ele, levou.

Agora posso ver o que é real,
E é pior do que imaginava.
Vejo que ninguém foi leal,
A aquilo que outrora pregava.

E então eu olho para trás,
E vejo o que me restou,
Um deserto de angustias,
De abandonos,
E lamúrias...

E essa solidão que me abala,
É ainda pior,
Pois vem junto com a certeza,
De ser eterna...
Já que o mundo acabou,
E levou junto com ele,
Minhas esperanças...


Por: Érica Pierre Costa

Ilusão

Como uma bruma prestes a se dissolver,
No primeiro e simples toque.
Como um fantasma a me assombrar,
Transparente, porém que esconde um segredo.
Como a água que não posso segurar,
Que me escorre pelos dedos.

Você apareceu,
E logo no primeiro olhar eu senti,
Que sentiria algo ti.
Com tuas loucuras,
Teus jeitos,
Que mesmo sendo estranhos,
Eram teus,
Portanto os amei.

Cada detalhe, mero detalhe,
Em você,
Eu amei.

Cada palavra,
Cada letra,
Cada silaba,
Que viesse de teus lábios,
Eu amei.

Mesmo quando as palavras,
Cortavam minhas esperanças,
Ainda assim eram tuas,
Logo,
Eu as amei.

Mas então, o que era inesperado para mim,
Ocorreu como eu não mais pensava ser possível.
Você me envolveu em palavras,
Por mim tão queridas,
Por mim tão esperadas.

Devolveu-me a esperança,
De ser verdadeiramente amada.

Só que, como a ilusão que era aquilo tudo,
Rapidamente se dissipou.
Tu me enganaste,
Fez-me sentir o gosto pela vida,
Para que fosse tão pior e tão doloroso
Quanto possível,
Quando eu não mais pudesse vivê-la.
Quando eu não mais pudesse senti-la,
Pois tuas mãos ensangüentadas do meu amor,
Tiraram-me esse direito.

E assim meu coração partira

Ainda posso sentir doer,
Quando penso que um dia,
Meus lábios ávidos e sedentos
De qualquer sentimento
Que viesse de ti,
Tocaram tua boca,
Envolveram tua língua,
Pensaram conter teu amor,
Mas ao invés disso contiveram uma mentira,

Hoje,
O teu beijo permanece em mim,
Porém,
Não sinto gosto de mais nada,
Apenas de traição.

Mas ainda assim,
Choro por ti,
Sofro por ti,
E amo-te mais que tudo
Esperando que um dia eu possa
Emergir desse buraco profundo.


Por: Érica Pierre Costa

domingo, 3 de fevereiro de 2008

O pranto do mundo

Estava sentada olhando o mundo afora. Pensando na vida, nas desgraças que ela pode trazer. Observava ao longe um mundo que aparentava ser ainda, por mim, desconhecido. Uma montanha ao fundo cercada de um bosque que desenhavam um caminho até a lagoa perto de uma casa abandonada. O céu estava cinzento assim como se encontrava o meu interior. Um turbilhão de sentimentos, de sofrimentos, que lutavam para brotar de dentro desse corpo inerte. Mas então, vejo uma gota caindo da escura imensidão que pairava sobre a minha pessoa. Tal gota cai sobre meu rosto e percorre um caminho que outrora já fora muito percorrido por grandes quantidades de água salgada em forma de lágrimas. Posso sentir o frio daquele pouquinho de água passando por minha pele cálida, sedenta de carinho. Agradeço então à chuva, que chora por mim, já que meu pranto se esgotou por todas as lágrimas que derramei em vão na solidão de sentimentos vazios de resposta.


Por: Érica Pierre Costa

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Inteligência

De que serve uma inteligência, se ela não vem junto com a bondade, com bons princípios, com humildade. Uma inteligência arrogante e egoísta não deixa de ser uma burrice.

Essência

Escondido lá no fundo,

Está o segredo.

Aquele mistério profundo,

Que me dá medo.

Todos nós temos aquele algo,

Que mantemos em sigilo,

Aquele quê de por que,

A incerteza sem fim

Todos nós desconhecemos,

Certas coisas sobre nós mesmos,

Que ficam muito bem escondidas,

Nas arestas da alma,

Nossos limites?

Não sabemos.

Estamos sempre a nos surpreender.

E é assim que se constata

Que a essência da vida,

É a dúvida.

Por: Érica Pierre Costa

Por isso que sei que posso ser tudo ou nada do que penso ser, posso ser isso e mais um pouco, posso ser nada menos tudo... Mas sei que sou alguma coisa, que está em constante mudança, em constante busca de saber o máximo possível sobre esse ser que sou atualmente, que a cada segundo ganha ou perde um novo pedaço. Isso me lembra de falar de espaço, apesar de viver em uma mesma cidade, urbana, moderna e tudo mais, porém pequena e afastada de tudo, minha vida toda, e apesar de amá-la extremamente, sei que à aqui eu não pertenço, pertenço ao mundo, à todas as cidades de todos os paises que abrigam todas as culturas das mais diferentes possíveis. Esse sim é meu lar, meu lugar, no meu coração está escrito assim: Meu endereço? TODOS! E um dia poderei finalmente conhecer toda minha casa.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ato Falho

O frio congelante arrepia minha espinha

Tremo-me toda, banhada por lágrimas

Essa dor salgada após tuas palavras

Doces palavras que foram, porém lâmina de faca

Rasga por dentro reabre o que já havia fechado

Recobra o que já havia curado

Relembra de todo um passado

E o que fazer?

Meu corpo treme sem parar

Minha mente se descontrola

Minhas palavras já não são minhas

São de meu subconsciente

Seguidos atos falhos me fazem te dizer

Tudo aquilo que reprimi

Anteriormente...

Por: Érica Pierre Costa

A Tempestade

No céu obscuro, acinzentado,

A nuvem carregada se movimenta.
(No interior do peito, sequelado,
O coração aflito bate.)

A eletricidade se acumula.
Agitados, dentro da nuvem, se misturam os raios.
(Os sentimentos aumentam.
Inquietas, dentro da mente, se confundem as emoções.)

Vão aumentando, vão crescendo.
Vão lutando entre si.
O limite vai chegando ao fim
Até que se rompe aquela linha
Que segurava tudo,
Mas não segurava a dor,
Que agora, cresce ainda mais.

Cai um raio, seguido de muitos outros.
Descarga elétrica conhecida
Pelo céu experiente em tempestades.
Faz um corte, corre o sangue,
Gotejando sem fim,
Agonia conhecida
Pelo coração experiente em dor.

Mas dessa vez ele não pára,
Continua a bombear,
Como se expulsasse o sangue, a vida,
Para fora do corpo...
Como as nuvens expulsam
A dolorida eletricidade para fora delas,
Nessa tempestade, a pior de todos os tempos.

Tempestade inexplicável,
Agonia inacabável.
Quero respostas...
Onde estará o fim, dessa chuva, dessa dor?


Por: Érica Pierre Costa


quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O dia perfeito...

Era uma manhã bem clara no meio do verão, ela acorda e olha para os lindos desenhos feitos a mão no teto em cima da cama. Sempre teve em mente que alguém havia criado algo tão lindo, e porém, teve que abandonar sua obra. Ela ainda tentava assimilar o que havia acontecido na noite anterior, se perguntava se não havia apenas tido um sonho maluco. Finalmente ela se levanta, afinal tem um compromisso inadiável para hoje. Com a leveza de um anjo, caminha até o armário. Enquanto anda, aprecia o roçar da camisola de seda em suas pernas, a suave luz que vem da janela acariciar seu rosto, a brisa mexendo em seus cabelos despenteados. E então vem a lembrança: “eu sei que ela é sua melhor amiga...” ele havia dito poucas horas antes. E a dor que ela tinha sentido, volta a toda em sua mente “não vou me esquecer o que tivemos, mas..” mais uma das facadas dele. É difícil esquecer as belas palavras que ele lhe dizia antes, quando o amor dele ainda pertencia a ela “Nunca me esquecerei do jeito que seu olhar penetra bem fundo no meu e faz com que eu sinta um anjo me observando” belas palavras que agora soavam apenas como falsidade. Mas ela tem que recuperar a tranqüilidade.
Com os dedos delicados toca várias das roupas em seu armário, todas elas contêm histórias felizes e tristes do seu dia a dia. Escolhe então a sua favorita, a qual pertence a historia que mais a emociona, sua avó havia costurado aquele vestido para ela, sua neta, que na época estava para nascer, só que não era uma roupa de bebe, a avó imaginava que a neta a usaria quando se considerasse moça feita. Estranhamente, a senhora, não tão idosa, ao costurar o ultimo fio, faleceu. Ela imaginava que sua avó havia costurado com tanto carinho e tanta vontade de que ficasse perfeita que, em cada fio, deixou um sopro de sua própria vida. E realmente a roupa havia ficado perfeita. Era feita de um leve tecido que ainda não haviam conseguido identificar de que era feito. No diário da falecida senhora estava escrito que era de um algodão bem raro banhado em essência de lírios brancos, mas ninguém acreditara. Assim como a cor da flor responsável pela maciez do pano, a roupa era de um branco esplendoroso, e tinha um ar encantado como se tivesse sido feita para contos de fada. O cheiro era aconchegante e parecia ser eterno, pois a roupa nunca tinha deixado de ter aquele aroma floral. Era longo o suficiente para cobrir o joelho, mas deixava espaço para aparecer a linda tornozeleira que outrora fora de sua mãe e que combinava muito bem com o medalhão de prata em forma de coração que seu pai tinha lhe dado quando ela tinha apenas 7 anos. Estava guardando aquela roupa para uma ocasião especial.
Já vestida, ela se dirige até a sua escrivaninha, pára diante do gaveteiro, abre a ultima gaveta e avista a caixa onde ela guarda varias lembranças, o folheto da escola preferida, que recebeu no dia em que conheceu sua melhor amiga, a pequenina bonequinha de pano que ganhara de uma prima, a primeira declaração de amor, a poesia fruto da primeira decepção amorosa, o ingresso de quando tinha ido à inauguração do parque com os amigos, seu diário, e dentro de uma página muito especial que ela nem precisava ler, pois sabia de cor, ela vê a rosa que ele havia colhido para ela no seu primeiro encontro...
Depois de olhar tudo ela se põe a escrever duas cartas, uma para a melhor amiga, outra para ele... Posiciona as duas com cuidado na mesa de cabeceira. Assim que sua mão toca a madeira da mesinha ao lado da cama, ela ergue os olhos e vê um retrato que ela havia feito com varias fotos dela com os amigos e família. Lá estavam muitos dias felizes de sua vida. Uma foto sua quando pequena. Recém nascida e já era o orgulho da família, primeira filha, primeira neta, primeira sobrinha. Ao lado uma foto dele, dela e da melhor amiga juntos rindo com o sorvete na mão, nesse dia ela tinha percebido o quanto estava apaixonada. Logo abaixo uma foto em frente à melhor escola na qual ela já havia posto os pés. Todas essas lembranças a confundem, com isso ela balança a cabeça como se isso fosse afastar o passado. Com o andar de uma mártir, caminha carregando o peso de suas dores em direção à janela. Afasta um pouco a cortina transparente, a vista de seu quarto sempre fora linda e aconchegante, as árvores e flores do quintal da casa, seus pais sempre se preocuparam em plantar as flores que ela, a filha única, mais gostava, e bem embaixo da janela estavam suas favoritas, as roseiras, flor e espinhos, juntos, em uma só planta. Mais a frente, a praia e o mar, o horizonte apontando para um futuro que poderia ser maravilhoso, e para completar a paisagem, o sol grandioso, iluminando a vida. Surge nela, então, uma ponta de dúvida quanto a sua decisão, mas não há jeito, não há volta, é assim que vai ser. Ela sobe no parapeito da janela, olha novamente para a paisagem e para o seu quarto, e como ultimo ato, despede-se de tudo.