quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ato Falho

O frio congelante arrepia minha espinha

Tremo-me toda, banhada por lágrimas

Essa dor salgada após tuas palavras

Doces palavras que foram, porém lâmina de faca

Rasga por dentro reabre o que já havia fechado

Recobra o que já havia curado

Relembra de todo um passado

E o que fazer?

Meu corpo treme sem parar

Minha mente se descontrola

Minhas palavras já não são minhas

São de meu subconsciente

Seguidos atos falhos me fazem te dizer

Tudo aquilo que reprimi

Anteriormente...

Por: Érica Pierre Costa

A Tempestade

No céu obscuro, acinzentado,

A nuvem carregada se movimenta.
(No interior do peito, sequelado,
O coração aflito bate.)

A eletricidade se acumula.
Agitados, dentro da nuvem, se misturam os raios.
(Os sentimentos aumentam.
Inquietas, dentro da mente, se confundem as emoções.)

Vão aumentando, vão crescendo.
Vão lutando entre si.
O limite vai chegando ao fim
Até que se rompe aquela linha
Que segurava tudo,
Mas não segurava a dor,
Que agora, cresce ainda mais.

Cai um raio, seguido de muitos outros.
Descarga elétrica conhecida
Pelo céu experiente em tempestades.
Faz um corte, corre o sangue,
Gotejando sem fim,
Agonia conhecida
Pelo coração experiente em dor.

Mas dessa vez ele não pára,
Continua a bombear,
Como se expulsasse o sangue, a vida,
Para fora do corpo...
Como as nuvens expulsam
A dolorida eletricidade para fora delas,
Nessa tempestade, a pior de todos os tempos.

Tempestade inexplicável,
Agonia inacabável.
Quero respostas...
Onde estará o fim, dessa chuva, dessa dor?


Por: Érica Pierre Costa


quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O dia perfeito...

Era uma manhã bem clara no meio do verão, ela acorda e olha para os lindos desenhos feitos a mão no teto em cima da cama. Sempre teve em mente que alguém havia criado algo tão lindo, e porém, teve que abandonar sua obra. Ela ainda tentava assimilar o que havia acontecido na noite anterior, se perguntava se não havia apenas tido um sonho maluco. Finalmente ela se levanta, afinal tem um compromisso inadiável para hoje. Com a leveza de um anjo, caminha até o armário. Enquanto anda, aprecia o roçar da camisola de seda em suas pernas, a suave luz que vem da janela acariciar seu rosto, a brisa mexendo em seus cabelos despenteados. E então vem a lembrança: “eu sei que ela é sua melhor amiga...” ele havia dito poucas horas antes. E a dor que ela tinha sentido, volta a toda em sua mente “não vou me esquecer o que tivemos, mas..” mais uma das facadas dele. É difícil esquecer as belas palavras que ele lhe dizia antes, quando o amor dele ainda pertencia a ela “Nunca me esquecerei do jeito que seu olhar penetra bem fundo no meu e faz com que eu sinta um anjo me observando” belas palavras que agora soavam apenas como falsidade. Mas ela tem que recuperar a tranqüilidade.
Com os dedos delicados toca várias das roupas em seu armário, todas elas contêm histórias felizes e tristes do seu dia a dia. Escolhe então a sua favorita, a qual pertence a historia que mais a emociona, sua avó havia costurado aquele vestido para ela, sua neta, que na época estava para nascer, só que não era uma roupa de bebe, a avó imaginava que a neta a usaria quando se considerasse moça feita. Estranhamente, a senhora, não tão idosa, ao costurar o ultimo fio, faleceu. Ela imaginava que sua avó havia costurado com tanto carinho e tanta vontade de que ficasse perfeita que, em cada fio, deixou um sopro de sua própria vida. E realmente a roupa havia ficado perfeita. Era feita de um leve tecido que ainda não haviam conseguido identificar de que era feito. No diário da falecida senhora estava escrito que era de um algodão bem raro banhado em essência de lírios brancos, mas ninguém acreditara. Assim como a cor da flor responsável pela maciez do pano, a roupa era de um branco esplendoroso, e tinha um ar encantado como se tivesse sido feita para contos de fada. O cheiro era aconchegante e parecia ser eterno, pois a roupa nunca tinha deixado de ter aquele aroma floral. Era longo o suficiente para cobrir o joelho, mas deixava espaço para aparecer a linda tornozeleira que outrora fora de sua mãe e que combinava muito bem com o medalhão de prata em forma de coração que seu pai tinha lhe dado quando ela tinha apenas 7 anos. Estava guardando aquela roupa para uma ocasião especial.
Já vestida, ela se dirige até a sua escrivaninha, pára diante do gaveteiro, abre a ultima gaveta e avista a caixa onde ela guarda varias lembranças, o folheto da escola preferida, que recebeu no dia em que conheceu sua melhor amiga, a pequenina bonequinha de pano que ganhara de uma prima, a primeira declaração de amor, a poesia fruto da primeira decepção amorosa, o ingresso de quando tinha ido à inauguração do parque com os amigos, seu diário, e dentro de uma página muito especial que ela nem precisava ler, pois sabia de cor, ela vê a rosa que ele havia colhido para ela no seu primeiro encontro...
Depois de olhar tudo ela se põe a escrever duas cartas, uma para a melhor amiga, outra para ele... Posiciona as duas com cuidado na mesa de cabeceira. Assim que sua mão toca a madeira da mesinha ao lado da cama, ela ergue os olhos e vê um retrato que ela havia feito com varias fotos dela com os amigos e família. Lá estavam muitos dias felizes de sua vida. Uma foto sua quando pequena. Recém nascida e já era o orgulho da família, primeira filha, primeira neta, primeira sobrinha. Ao lado uma foto dele, dela e da melhor amiga juntos rindo com o sorvete na mão, nesse dia ela tinha percebido o quanto estava apaixonada. Logo abaixo uma foto em frente à melhor escola na qual ela já havia posto os pés. Todas essas lembranças a confundem, com isso ela balança a cabeça como se isso fosse afastar o passado. Com o andar de uma mártir, caminha carregando o peso de suas dores em direção à janela. Afasta um pouco a cortina transparente, a vista de seu quarto sempre fora linda e aconchegante, as árvores e flores do quintal da casa, seus pais sempre se preocuparam em plantar as flores que ela, a filha única, mais gostava, e bem embaixo da janela estavam suas favoritas, as roseiras, flor e espinhos, juntos, em uma só planta. Mais a frente, a praia e o mar, o horizonte apontando para um futuro que poderia ser maravilhoso, e para completar a paisagem, o sol grandioso, iluminando a vida. Surge nela, então, uma ponta de dúvida quanto a sua decisão, mas não há jeito, não há volta, é assim que vai ser. Ela sobe no parapeito da janela, olha novamente para a paisagem e para o seu quarto, e como ultimo ato, despede-se de tudo.