É como se nós nunca tivéssemos acontecido. Procuro em meus pensamentos
nossas lembranças e as vejo cada vez mais apagadas. Tento lembrar-me do teu
rosto sem precisar do auxílio de tuas imagens e cada vez mais te tornas um
homem sem face em minha frente. Um homem sem olhos a me encarar. Já não sei
mais a que me apego, de tão distante que estamos. O desejo vai sumindo pelas
beiradas, e por mais intenso que tudo o que passamos juntos tenha sido, a
extinção chega cada vez mais perto do centro. Essa sou eu desistindo. Não
disseste nada, não sentiste nada. Essa sou eu desistindo de algo que nunca
existiu. Porque a cada dia me pergunto mais e mais se não foi tudo fruto da
minha mente. Resultado de alguma carência. Sonhos causados por noites insones
em que, no calor, sentia-me morrer de frio. Apenas um quadro que pintei
sozinha, um retrato perfeito de tudo que sempre esperei em alguém. E não há registros
nossos que me mostrem o contrário. Foste tudo o que eu sempre quis. Não foste tudo
o que eu sempre quis. E sinto a ilusão escorrer-me pelos dedos. Há pouco tempo me
encontrava perambulando em abstinência e tive a visão de um oásis. No deserto
gélido pensei ter te encontrado cálido a me aliviar. Mais uma das minhas visões
que agora se acumulam no meu esconderijo de negações. Pensando agora em como
tudo aconteceu, lembro-me que tentaste me avisar. Como quando estamos em um
sonho ou pesadelo e um dos personagens nos alerta, com algum gesto ou palavras
sutis, de que aquilo não é real. Eu deveria ter te escutado, mas nem chegaste a
existir. Tão estranho e dolorido ter de
reaprender a viver sem algo que nunca tive.
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