segunda-feira, 17 de março de 2014

A Volta Para Casa

Fora uma segunda-feira plena. Do amanhecer, ao acordar atrasada para a faculdade e ter de se arrumar às pressas, sem ter dormido tão bem por ter sido acordada com um susto no meio da noite pelos seus medos e inseguranças. Ao fim do dia, na volta pra casa, sentada de forma desconfortável e espremida na fileira final do ônibus, último lugar que havia sobrado quando ela entrou. Ela pensava, pois era só o que restava a fazer naquele momento. Não havia a voz do professor ou o peso do trabalho a distraí-la e não conseguia evitar que seus pensamentos corressem soltos como uma manada por cima de sua cabeça. Tentava espairecer, percebendo pequenos detalhes. Como o reflexo da luz dos carros no cano que se usa para se segurar e que atravessa o teto do ônibus. Eram pequenos pontos de luz a correr pelo cilindro de metal, pintado de amarelo, de forma a parecer que era por ali mesmo que andavam e não pela rua. No entanto, eram apenas reflexos, ilusões. E ela sabia disso mais do que ninguém. Devaneava e buscava entreter-se, mas acabava voltando para o mesmo desconfortável lugar em sua mente. Olhava para o cano e sua vontade era de agarrar-se a ele com força, indo para onde quer que o veículo controlado por outrem fosse. Porém temia que se assim o fizesse, o peso de sua vida, com desejos não cumpridos, saudades ainda latejantes e histórias inacabadas, acabaria por arrebentá-lo.



" All I can say is that my life is pretty plain
I like watchin' the puddles gather rain
And all I can do is just pour some tea for two
And speak my point of view
But it's not sane, It's not sane"
(No Rain - Blind Melon)

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