Gosto de sentir frio. Em algumas noites
particularmente geladas, vou até à varanda de casa, apenas de short e camiseta,
descalça. Sinto o chão de granito a congelar meus pés, o frio do metal do
parapeito se espalhando pelas palmas das minhas mãos, o vento álgido endurecendo
em meu rosto, encosto minha coxa nua no vidro espelhando e sinto minha carne
enregelar. Sinto que a morte deva ser algo parecido com isso e penso “é, posso
me acostumar”. Subo no pequeno degrau do parapeito e percebo quão fácil seria
me jogar, gosto de brincar com a sensação de que posso desistir a qualquer
momento. Sinto o mesmo quando ando pela calçada, ao lado de alguma pista de alta
velocidade bem movimentada; quão simples seria dar apenas um passo para o lado
e... Fim.
Dizem que a
indiferença é a pior dor que se pode infligir a alguém. Para mim, estão
errados; indiferença seria alívio. O gelado oposto ao calor que queima minhas
pálpebras molhadas.
And how I long for your cold hands to suffocate me.
And how I long for your cold hands to suffocate me.
A indiferença seria uma boa mudança dessa vida de
intensidades e inconstâncias. Tenho um sério histórico de dificuldade em lidar
com o meio termo. Por mais que eu, por vezes, saiba fingir conhecer muito bem o
equilíbrio. A verdade é que na maior parte do tempo eu me divido entre me jogar
de cabeça em tudo (com o maior sorriso no rosto) e querer socar tudo com força aos
berros. Viver de zero a 300 km/h é só o que eu aprendi a fazer e o mecanismo
interno vai aos poucos se desgastando e eu continuo sentindo que sequer saí do
lugar. É claro que se tratando de pessoas eu não conseguiria fazer diferente,
vou à toda velocidade de encontro a elas e sempre ouço o quanto elas me são
gratas por isso; o estranho é quando olho por cima do meu ombro e noto que elas
ficaram para trás, agradecendo e acenando. Nenhuma se dando ao trabalho de vir
comigo. Sigo viagem a 300 km/h e continuo aqui, sigo colhendo pessoas e
continuo só. Se não posso ter o permanente, penso que o indiferente seria uma
boa alternativa.
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