sexta-feira, 5 de junho de 2009

A Cerejeira

Eu não sabia onde estava, de onde havia vindo, para onde iria, por que estava ali. Não sabia quem eu era, não sabia como havia chegado até aquele lugar. Nada disso me importava naquele momento. Só o que eu sabia era que o céu estava tingido de vários tons de cinza, coberto de nuvens. Eu podia ver os contornos delas, mal delineados pelas partes mais escuras, deixando escapar em alguns cantos um ou outro feixe de luz fraca. Sabia que o vento não estava forte, mas podia senti-lo frio controlando o ritmo com que se movia meu cachecol laranja. Eu sabia que podia sentir tanto a grama um pouco úmida pinicar meus dedos das mãos quanto a rigidez do tronco de cerejeira nas minhas costas. Olhei para cima, em direção à copa da árvore que estava no ápice de sua florescência, e pude enxergar as pequenas formas carmim balançando suavemente. Três pétalas se desprenderam descendo com calma, uma após a outra. Observei enquanto flutuavam, pairando delicadamente no ar. Uma delas caiu na maçã de meu rosto e senti sua textura roçar em minha pele, a segunda caiu em meu cabelo que se derramava em cascata sobre meu busto. A última foi levada pela brisa para longe, fora de meu campo de visão.
Uma única lágrima se libertou de mim. Desceu pelo meu rosto formando seu caminho, interrompido apenas pela pétala, que a absorveu manchando sua cor antes imaculada. Soltei um suspiro fraco pensando em como eu sabia que se apenas permanecesse sentada ali e esperasse, logo aquele vazio que me assombrava me consumiria por completo e eu não mais existiria.

Por: Érica Pierre Costa

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